quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O que você sabe sobre o amor ?

Olha pra mim de frente e responda: O que você sabe sobre o amor?
Fala pra mim do seu casamento, do seu namoro, dos seus projetos pro futuro..
Me fala que fora as peregrinações imprevistas na vida, nada poderia vir a perturbar o seu amor...

 Se é pra conversarmos abertamente, eu queria te fazer uma pergunta, se prometer responder com sinceridade. Quanto tempo durou a sua mais demorada história de amor? Não estou me referindo  à seu último romance nem a sentimentos sonhados, mas de relação vivida. Dois, três, quatro, quem sabe cinco anos? Pouco importa.

Dizem que o amor dura sete anos. Você seria capaz , por sete anos, se oferecer à alguém sem reservas, completamente, sem se conter, sem apreensão nem dúvidas, sabendo que essa pessoa que você ama mais que qualquer outra coisa no mundo, pode vir a esquecer tudo que viveram juntos?

Sabendo que isso é inevitável, teria ainda força para se levantar no meio da noite se a pessoa amada estivesse com sede ou simplesmente tido um pesadelo?
Vai ter vontade diariamente pela manhã de preparar o café para essa pessoa, se esforçar para estar presente no dia dela, diverti-la, contar histórias se ela se entediar, cantar para ela, sair para que ela tome um pouco de ar mesmo que lá fora faça um frio glacial, e depois, à noite, ignorar o cansaço e vir à cama dela para sossegá-la, falar de um futuro que ela necessariamente vai viver longe de você?

Se a resposta para cada uma dessas perguntas for afirmativa, nesse caso me desculpe por ter te julgado mal, você sabe o que é amar.
O amor que eu acabo de descrever é o amor de um pai ou mãe pelos seus filhos.

Quantos dias e noites passados a cuidar, a vigiar a menor possibilidade de perigo, a olhar, a ajudar a crescer, a secar as lágrimas, a fazer rir, quantos parques no inverno e praias no verão, quantos quilômetros percorridos, palavras repetidas, tempo dedicado...no entanto, a partir de qual idade se guarda as primeiras lembranças da infância?

Pode imaginar a que ponto é preciso amar para aprender a viver para vocês, sabendo que vão esquecer tudo daqueles primeiros anos e nos anos seguintes vão se ressentir do que não fizemos direito?
E que virá com toda certeza o dia em que nos deixarão, orgulhosos pela liberdade adquirida?
Pode imaginar o quanto é terrível o dia em que os filhos vão embora? O gosto dessa ruptura?

Vou contar o que acontece...
A gente fica ali como um idiota, na soleira da porta, vendo vocês partirem, se convencendo de que é preciso incentivar essa separação, se alegrando com a irresponsabilidade que anima vocês e arranca um pedaço de nós.

Fechada a porta é preciso reaprender tudo, preencher os cômodos vazios, não controlar o barulho dos passos, esquecer os estalos tranquilizadores da escada quando chegavam tarde da noite e podíamos finalmente dormir sossegados, passando no entanto a ir buscar o sono em vão, já que vocês não estão mais prestes a chegar...
Mesmo assim, pai e mãe nenhum se vangloriam  e isso é amar, sem que se tenha outra escolha, uma vez que nós amamos vocês.


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Trecho retirado do livro:
"Tudo aquilo que nunca foi dito" 
de Marc Levy
Págs: 202 e 203

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